Ciclo Solitário

Após o divórcio, Hong muda-se de Yinchuan para Chongqing com a filha, Ye. Dez anos mais tarde, Liu, o novo namorado de Hong, muda-se para a casa das duas apesar de Ye ainda ser muito apegada ao pai. A garota começa a ficar confusa com as atitudes de Liu em relação a ela e sofre ao lidar com essa ambiguidade. Toda essa ansiedade faz com que ela relembre o passado enquanto caminha entre uma realidade fragmentada e seus sonhos. – Ciclo Solitário [2019]

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O que é real e o que é sonho na vida de uma adolescente que se nega a aceitar o presente? E o passado, quando revisitado, continua da maneira como nos lembramos? Aliás, algo de fato muda em uma vida composta de ciclos? Estas são perguntas que surgem no primeiro longa metragem do diretor Zhang Qi.

No filme, acompanhamos a vida da jovem Ye em uma rotina repleta de pequenas tensões, abafada por sentimentos não expressos e palavras não ditas. Ye não consegue criar vínculos reais na cidade de Yinchuan, para onde se mudou com a mãe dez anos atrás após o divórcio dos pais.

Ela deseja saber mais sobre o pai que ficou para trás em sua cidade natal e cujo único vínculo é o dinheiro da pensão que chega mensalmente. Além disso, o fato do atual namorado de sua mãe ter se mudado para sua casa torna ainda mais difícil seu elo com o passado.

Ye sofre diante da postura ambígua de seu possível padrasto, culpa a mãe por ser lançada em uma realidade que ela não estava disposta a enfrentar e se sente confusa diante dos avanços de seu namorado, de quem visivelmente gosta, mas não se permite vivenciar uma conexão real. Esse turbilhão de emoções acaba por refletir em suas atitudes e percepções transformando suas noites em experiências repletas de sonho, saudade e solidão.

Ciclo Solitário - Cenas - Eiga desu!

Aliás, não apenas a garota tem dificuldades em se estabelecer no presente. Hong, sua mãe, tenta construir uma nova vida junto de seu amado, projetando nele o que esperava do ex-companheiro. Já Liu não sabe como se portar junto da nova família ao passo que tenta se afastar de sua antiga profissão e rotina. Ambos acabam se decepcionando por não conseguirem se libertar de velhos hábitos e anseios remanescentes de suas vidas passadas.

O longa traz uma bela fotografia e boas interpretações, mas sua trama reticente acaba por nos distanciar de seus personagens. O clima inquietante e sua falta de linearidade também influenciam na percepção de que a história não evolui, curiosamente impedindo que os ciclos propostos se fechem. Apesar disso, entendo que este é um filme que deve ser mais sentido do que compreendido em sua totalidade. Sinestesia é a palavra chave desta obra cujo peso está majoritariamente nos sons e nas imagens e não nas palavras.

Com um clima onírico e apoiando-se mais nas sensações geradas por sua imagética do que na coesão de seu roteiro, Ciclo Solitário mostra como pode ser enganoso o resgate de um passado idealizado, principalmente quando estamos presos em espirais que se repetem e nos impedem de apreciar os desafios e surpresas do presente.

Trailer

Ficha Técnica

  • 夜以继夜 : Ye yi ji ye
  • Título Literal : “Noite após noite”
  • Título Internacional: Single Cycle
  • Direção : Zhang Qi
  • Info: China 2019 Cor – 95 min
  • IMDb: www.imdb.com/title/tt11151734/

Nota

7.0/10
7/10

Nascido algumas décadas atrás num agosto cinzento. Amante de literatura e Cinema, em especial as produções orientais. Tem nesse projeto um sonho que se iniciou no distante ano de 2006.

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