O Dia Depois

Ah-reum está pronta para o seu primeiro dia de trabalho em uma pequena editora, onde ela precisa lidar com seu chefe Bong-wan e sua vida amorosa complicada. Após uma crise no casamento, no entanto, a esposa de Bong-wan encontra um bilhete amoroso na mesa dele e acaba por envolver Ah-reum nesta situação delicada. – O Dia Depois [2017]

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O Dia Depois é um filme curioso.

Filmado em preto e branco e explorando de forma primorosa o contraste entre luz e sombra, o longa aposta numa fotografia intimista que valoriza interiores e que coloca os personagens numa posição quase voyeurística para o espectador. É inegável a qualidade visual e o cuidado ao se montar cada uma das cenas.

Essa estética intimista se estende para a interação entre os protagonistas, na medida em que longas conversas a dois são tecidas, sejam regadas pelo café da editora ou pelas doses de soju consumidas em quantidade nos restaurantes, onde os envolvidos buscam por aceitação, ao mesmo tempo em que se mostram dissimulados e frágeis.

O enredo aborda as manobras e revezes na vida do dono de uma pequena editora que utiliza seu prestígio e influência como vantagens no jogo da sedução. Acomodado em sua posição, ele tem de lidar com o rompimento recente com sua amante e, agora, ex-funcionária, sua esposa que passa a desconfiar de suas atitudes e da jovem novata que pretende ocupar o cargo vago da editora.

Nesse ponto, também não há como negar que os diálogos são bem trabalhados e trazem à tona questões reflexivas sobre a fina linha que separa a gentileza do assédio, a resignação da covardia.

O Dia Depois - Resenha do filme - Cenas

Sobre as atuações, Kim Min-hee (do excelente A Criada) traz um misto de inocência e maravilhamento ao interpretar com sua leveza característica a nova colaboradora da editora. Sua personagem é delicada, inteligente e gentil e serve de contraponto ao papel de Kwon Hae-hyo que em sua interpretação do aclamado crítico e dono da editora entrega a figura de um homem imerso na apatia, indecisão e carência. Cho Yun-hee no papel da esposa ciumenta e descontrolada e Kim Sae-byuk como a antiga funcionária e amante também se esforçam em apresentar suas visões das personagens, e mais uma vez, o resultado é satisfatório.

Por que digo, então, que o filme é curioso? Pelo fato de que apesar da linda fotografia, de um enredo inteligente e perspicaz e de bons atores encarnando personagens interessantes, a obra se mostra plana beirando em certos momentos a chatice, como se fosse um recorte de algo maior e mais bem elaborado.

O Dia Depois peca por este clima de incompletude onde a monotonia das cenas e a falta de desenvolvimento dos protagonistas faz com que não criemos um vínculo com nenhum dos personagens apresentados. Alias, esta falta de identificação faz com que os longos diálogos gerem certo desinteresse e a sensação de que não estamos sendo conduzidos a lugar nenhum.

Essa sensação é intensificada pela repetitiva e bizarra trilha sonora, que a princípio se encaixa perfeitamente com as cenas, mas que vai perdendo sua força e passa a incomodar e distrair por sua utilização desmedida.

Esses pontos não chegam a estragar a experiência do longa e em grande parte são um reflexo do estilo de direção adotado por Hong Sang-soo, mas tivessem sido mais bem trabalhados, teríamos não apenas um vislumbre mas sim um belíssimo e completo ensaio sobre a fragilidade das relações em tempos de medo e egoísmo.

O Dia Depois é mesmo um filme curioso.

Trailer

Ficha técnica

  • 그후 : Geu-hu
  • Título Literal : “Depois Disso”
  • Título Internacional: The Day After
  • Direção : Hong Sang-soo
  • Info: Coréia do Sul, 2017 Preto e Branco – 92 min
  • IMDb: www.imdb.com/title/tt6462506/

Nota

6.0/10
6/10

Nascido algumas décadas atrás num agosto cinzento. Amante de literatura e Cinema, em especial as produções orientais. Tem nesse projeto um sonho que se iniciou no distante ano de 2006.

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